Prestações: parcelar em 10 vezes sem juros é uma boa ideia? Se a compra não tem desconto à vista, como muitas vezes ocorre, deixar de pagar de uma vez para dividir o mesmo valor em dez vezes parece lógico do ponto de vista das finanças.
Esse raciocínio só vale para quem tem dinheiro investido, afirma André Crepaldi, planejador financeiro. “Desse modo, a pessoa paga parcela e ainda mantém o dinheiro rendendo juros”, diz.
Esse comportamento, porém, é exceção. O perigo de dividir em muitas parcelas é esquecer que elas existem e passar a fazer mais compras parceladas, até que a soma atinja um valor que prejudique todo o orçamento.
“As pessoas tendem a enxergar só o valor de uma parcela, e esquecer quanto do orçamento já está comprometido com as outras”, diz Crepaldi.
O consultor explica como funciona. Suponha que a folga orçamentária da pessoa seja de R$ 300. No primeiro mês ela faz uma compra e paga em cinco vezes de R$ 100. Depois ela parcela uma roupa em três parcelas de R$ 50. A capacidade mensal que era de R$ 300 já está em R$ 150. Fica doente e precisa comprar remédios e divide em mais parcelas de R$ 100. Já comprometeu, ao todo, R$ 250 por mês. Chega no quarto mês, precisa comprar uma geladeira nova em prestações de R$ 200 e não tem mais dinheiro para pagar a prestação do cartão.
Qual é o limite do endividamento?
Robinson Trovó, da Trovó Academy, ensina a seus alunos que a regra básica para ter uma saúde financeira equilibrada é seguir a regra que chama de 20-70-10. Por essa regra, a pessoa só deve comprometer 20% do seu salário líquido para o pagamento de dívidas. Os outros 70% vão para os seus gastos gerais (aluguel, lazer, alimentação e afins). “Os restantes 10% devem ser usados para investir e construir sua independência financeira”, afirma.
Para Fábio Barbalho, da Consultoria Ponto C, dividir em três parcelas é um limite menos perigoso. “Em 90 dias, tendemos a nos acostumar com a compra e até a começar a achar defeito no produto”, diz. “Já não é mais a TV de última geração, a gente já acostuma com a nova geladeira, e passamos a querer outros produtos. Por isso não é uma boa ideia parcelar demais.”
Para compras maiores que necessitem de financiamento, Trovó dá uma dica para saber o valor máximo a comprometer do orçamento:
Para financiar carro, multiplique por seis meses o valor do seu salário líquido. O total é o valor máximo que você pode financiar sem comprometer tanto o seu orçamento. Assim: se recebe R$ 2.000 líquidos, multiplique por seis meses. O resultado será R$ 12 mil. O financiamento máximo que ele sugere é de três anos.
Para financiar casa, multiplique por 36 meses o valor do seu salário líquido. Assim, se recebe R$ 2.000, o valor máximo a ser financiado é R$ 72 mil. Aqui, o financiamento máximo é de 10 anos.
“Obedecendo a esse limite, a pessoa dificilmente vai ultrapassar os 20% de endividamento. Não dá para a pessoa ganhar pouco e querer financiar carro, casa, comprar presente e viajar. Se ela quer fazer tudo isso, deve usar os 10% da renda para poupar e ir comprando à vista”, diz Trovó.
O que nunca se deve parcelar?
Segundo José Vignoli, educador financeiro do SPC Brasil, valores muito baixos não deveriam ser parcelados. “Dividir valores de R$ 50, R$ 100, por exemplo: acaba ficando um monte de prestações impossíveis de acompanhar”, diz. “Fica fácil perder o controle.”
Para Robinson Trovó, a principal dívida que o brasileiro nunca deveria fazer é com o carro. “É se endividar com algo que só perde valor ao longo dos anos”, diz.
Como evitar a chuva de prestações?
A melhor maneira de evitar o parcelamento é poupar para comprar à vista. Assim, se sabe que terá um gasto de R$ 1.200 ao final do ano, poupe todo mês R$ 100 para pagar à vista. Também prefira comprar em lugares que oferecem desconto para esse pagamento.