É seguro investir no Tesouro Direto? Entenda as suspensões nas vendas

Nas últimas duas semanas houve uma série de suspensões nas vendas de títulos públicos, que têm feito muita gente se perguntar: é seguro investir no Tesouro Direto? Se você também tem acompanhado essas notícias com apreensão, ou não está entendendo nada, essa é a hora de se informar.

O último episódio de suspensão no Tesouro Direto aconteceu na tarde desta quinta-feira (14). O mesmo ocorreu na quarta-feira (13) e na sexta-feira passada (8). Esse é um mecanismo adotado pelo Tesouro Nacional toda vez que as coisas “esquentam” no mercado – ou seja, quando há grande volatilidade das taxas de juros dos títulos públicos. Por exemplo, essa suspensão também aconteceu em 2017, quando veio à tona a delação de Joesley Batista em relação ao presidente Michel Temer.

Dessa vez, o motivo para tanta volatilidade foi a especulação dos agentes do mercado, que acreditam que o Banco Central pode querer aumentar a taxa de juros para conter a alta do dólar – já falamos sobre esse assunto aqui.

“Essa alta tende a pressionar a inflação para cima. O mercado então passou a especular que o Banco Central vai aumentar a taxa de juros para reverter uma parte da alta do dólar”, comenta Christiano Arrigoni, professor de Economia e Finanças do Ibmec-RJ. No entanto, no último dia 7, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, disse em entrevista que não usaria a taxa de juros para controlar o câmbio.

Junta-se a esse fator a alta recente do preço do petróleo, greve dos caminhoneiros e as eleições presidenciais. “Associada a esses fatores, há a questão sobre o quão lenta está sendo a recuperação da atividade econômica no Brasil neste ano”, completa Arrigoni.

O Tesouro Direto está suspenso?

Apesar da declaração do presidente do BC, os agentes do mercado não pareceram muito convencidos de que a taxa de juros não subiria. Com a aposta de que a Selic acabaria mais alta no futuro – logo, os títulos do Tesouro comprados mais tarde remunerariam melhor –, eles começaram a vender títulos que já estavam em suas carteiras de investimentos, especialmente os de prazo maior, na esperança de comprar outros com melhor remuneração no futuro. “Isso fez o preço desses títulos cair repentinamente e, consequentemente, a taxa de juros atual aumentar bruscamente”, explica.

A suspensão das vendas de títulos do Tesouro Direto aconteceu para evitar toda essa volatilidade – e, segundo o Tesouro Nacional, essa atitude é tomada para proteger os investidores de eventuais perdas, pois ela também ocorre quando as taxas de juros caem demais.

“Resta saber o quão comum foi, ao longo do tempo, o Tesouro suspender negociações quando a taxa de juros está baixa demais. Caso isso tenha ocorrido em uma frequência significativamente menor do que a suspensão em épocas de alta, então poderia se afirmar que essa medida visa mais proteger o Tesouro do que o investidor”, acredita.

Como essa volatilidade no Tesouro Direto afeta o seu bolso?

Segundo Arrigoni, o efeito depende do horizonte temporal, ou seja, de quanto tempo você deixa seu dinheiro investido. “Quem fica com os títulos até o vencimento não sofre nenhum efeito. Já aqueles que precisam vendê-los antes do vencimento podem sofrer perdas caso a taxa de juros de mercado suba muito”, afirma.

No geral, quanto mais distante for o prazo de vencimento, maior será a perda no valor do título ocasionado por uma alta repentina da taxa de juros de mercado. “Porém, uma observação é importante: em geral, os títulos indexados à taxa Selic estão protegidos desse tipo de variação, independentemente do seu prazo”, acrescenta.

Via Asacont